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Foto do escritorProfª Jéssica R. Stein

QUERIDA NINA.

Vitória, 24 de julho de 2020


Querida Nina,


Há quanto tempo você não se reconhecia ao olhar no espelho, não é mesmo? O processo de crescer, amadurecer, passar pela adolescência, assumir responsabilidades... estava tudo acontecendo muito rápido, o relógio não te dava tempo para se conhecer! De manhã você acordava, ia para a escola, depois caminhava até o trabalho e às terças a noite ainda tinha o curso, cobranças para todo o lado! Poucos eram os momentos em que você parava, respirava, aproveitava o momento e olhava para os detalhes do mundo ao seu redor. Havia uma turbilhão de sentimentos para você cuidar, quase a ponto de explodir, mas você não podia se abandonar e devia seguir em frente.

E aqui está você, nunca passou pela sua cabeça que seria desse jeito, em uma quarentena, que você iria novamente reconhecer a imagem que via no espelho. Sim, você começou a arriscar no crochê e está fazendo um cropped lindo que mal pode esperar para ver o resultado final. Cortou o cabelo no ombro, fez uma releitura da obra do Van Gogh “Noite Estrelada”, que aliás ficou linda no seu armário, deu uma nova cara ao seu cantinho! Você também leu vários livros e relembrou o quanto amava a leitura e se perguntou por que havia deixado de fazer isso? Quando foi que você se perdeu em seu emaranhado de linhas e nós?

Cidades de Papel, foi um dos livros que você leu durante a quarentena, John Green nunca definiu tão bem o que você estava sentindo antes “ Todas aquelas pessoas de papel vivendo suas vidas em casas de papel, queimando o futuro para se manterem aquecidas. Todas as crianças de papel bebendo a cerveja que algum vagabundo comprou para elas na loja de papel da esquina. Todos idiotizados com a obsessão por possuir coisas. Todas as coisas finas e frágeis como papel.”. Sim você quase se tornou uma garota de papel, esquecendo de valorizar os momentos e o mundo ao seu redor, prestando atenção apenas em coisas materiais, todas as coisas finas e frágeis como papel. Mas nesse meio tempo em que estavam apenas você e seus pensamentos, você voltou à vida.

Claro que você sente falta de ir ao shopping nos fins de semanas com os amigos, de jogar uno no recreio da escola, de ir comer coxinha na lanchonete do trabalho com sua amiga e rir de todas as maluquices que vocês faziam juntas, até de pegar o “busão” lotado no fim do dia junto com seus amigos e rir até a barriga doer com suas loucuras. Mas, com certeza, durante esse afastamento, você desfez vários nós que nem sabia que haviam se formado em seus emaranhados de linhas e voltou a tecer partes de você que tinham sido esquecidas.

Nina, eu espero que quando tudo voltar ao normal, você não se perca novamente de quem você é, caso se perca lembre-se que “Um adjetivo bom para vida é: Louca, porque pra viver não pode bater bem”. Tudo bem você se perder às vezes, a vida é mesmo essa loucura, só não desista de se achar novamente.


Tuyo | Vidaloca


A vida anda tão massa que eu fico bolada

Acho que tudo é armação

Tem câmera escondida dentro da minha casa

Para filmar minha reação


A vida anda tão louca, tô encurralada

Com dilemas insolúveis

Porque agora eu sou grande, eu to bem adulta

Tenho que pagar de normal


Um adjetivo bom pra vida é: Louca

Porque pra viver não pode bater bem

Se bem que no fim o mundo está morrendo

E no final de tudo não sobra


A vida anda tão chata que eu desejo a morte

Mas tô sem moral de morrer

Porque tem tanta coisa na minha agenda

Que eu tenho que resolver


Eu quero que se exploda a sociedade

E todos os seus malefícios

Porque a vida é pouca e eu não sou novinha

Quase pronta para partir


Um adjetivo bom pra vida é: Louca

Porque pra viver não pode bater bem

Se bem que no fim o mundo está morrendo

E no final de tudo não sobra ninguém




Com todo amor,


Sua melhor versão de si mesma, a verdadeira Nina.


A autora do texto é uma aluna do segundo ano que não quis se identificar.

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