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Foto do escritorProfª Jéssica R. Stein

Voltar ou não voltar? Eis a questão.

O retorno das aulas presenciais tem sido amplamente discutido nas últimas semanas, quem acompanha qualquer canal de notícias sabe disso.

Não há consenso entre as esferas de poder, nem da opinião pública. Virou um cabo de guerra de quem pode mais, afinal no nosso belíssimo estado temos uma defesa pétrea do governo em favor do retorno, mas não é o que defende os professores, nem mesmo boa parte da população.

Também não há unanimidade entre as autoridades de saúde, o que temos são muitos exemplos de outros países e até mesmo estados de que o retorno não foi bem sucedido, afinal o resultado foi o aumento no número de casos de contaminação.

Agora vejamos, o que muitas pessoas não entendem é que a escola não funciona na mesma lógica do mercado, tudo ali naquele espaço é diferente. Adolescentes, crianças e até mesmo adultos se comportam de forma diferente ali.

Imaginem que a entrada da escola é um portal para um mundo novo, mundo esse que deve ser regido pela ciência e conhecimento, mas que na realidade é um universo diferente. Vou falar aqui da minha experiência como professora de adolescentes cheios de ânimo e vida, sedentos por interação social, toque e calor humano.

Então pensemos, como dizer para os alunos que eles precisam retornar para o mundo da escola, mas esse mundo não é mais o mesmo? Que os professores, propagadores da ciência e da informação, estão apenas seguindo ordens como robôs sem vida que marcham sufocados pelas máscaras?

Não tem mais pátio livre, recreios animados, atividades de interação, não tem professor falando sem parar por 40 minutos, no mínimo, não tem abraços, nem sorrisos, nem alegria, só tem preocupação e medo, medo de reprovar, medo de se contaminar, medo de ver o que nos espera.

Imaginem a Disney sem os brinquedos, sem os personagens felizes, só as histórias escritas em grandes quadros brancos ou projetadas em slides.

Essa é a nossa perspectiva de retorno, então para os que defendem que o retorno das aulas presenciais será uma salvação para os adolescentes que estão circulando pelas ruas como se não houvesse uma pandemia, para os pais que precisam deixar seus filhos em algum lugar enquanto trabalham, saibam que a escola não pode mais fazer o seu papel. A escola mudou, não é mais a mesma.

Também não sabemos mais como ela será, ainda precisamos descobrir e reformular, reaprender e reestruturá-la, e digo que isso não será resolvido em dois meses de aula no fim de um ano letivo em que já tivemos que nos reinventar uma vez e agora exigem de nós outra reinvenção, não há mundo que se faça e refaça tantas vezes em tão pouco tempo.




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