O retorno das aulas presenciais tem sido amplamente discutido nas últimas semanas, quem acompanha qualquer canal de notícias sabe disso.
Não há consenso entre as esferas de poder, nem da opinião pública. Virou um cabo de guerra de quem pode mais, afinal no nosso belíssimo estado temos uma defesa pétrea do governo em favor do retorno, mas não é o que defende os professores, nem mesmo boa parte da população.
Também não há unanimidade entre as autoridades de saúde, o que temos são muitos exemplos de outros países e até mesmo estados de que o retorno não foi bem sucedido, afinal o resultado foi o aumento no número de casos de contaminação.
Agora vejamos, o que muitas pessoas não entendem é que a escola não funciona na mesma lógica do mercado, tudo ali naquele espaço é diferente. Adolescentes, crianças e até mesmo adultos se comportam de forma diferente ali.
Imaginem que a entrada da escola é um portal para um mundo novo, mundo esse que deve ser regido pela ciência e conhecimento, mas que na realidade é um universo diferente. Vou falar aqui da minha experiência como professora de adolescentes cheios de ânimo e vida, sedentos por interação social, toque e calor humano.
Então pensemos, como dizer para os alunos que eles precisam retornar para o mundo da escola, mas esse mundo não é mais o mesmo? Que os professores, propagadores da ciência e da informação, estão apenas seguindo ordens como robôs sem vida que marcham sufocados pelas máscaras?
Não tem mais pátio livre, recreios animados, atividades de interação, não tem professor falando sem parar por 40 minutos, no mínimo, não tem abraços, nem sorrisos, nem alegria, só tem preocupação e medo, medo de reprovar, medo de se contaminar, medo de ver o que nos espera.
Imaginem a Disney sem os brinquedos, sem os personagens felizes, só as histórias escritas em grandes quadros brancos ou projetadas em slides.
Essa é a nossa perspectiva de retorno, então para os que defendem que o retorno das aulas presenciais será uma salvação para os adolescentes que estão circulando pelas ruas como se não houvesse uma pandemia, para os pais que precisam deixar seus filhos em algum lugar enquanto trabalham, saibam que a escola não pode mais fazer o seu papel. A escola mudou, não é mais a mesma.
Também não sabemos mais como ela será, ainda precisamos descobrir e reformular, reaprender e reestruturá-la, e digo que isso não será resolvido em dois meses de aula no fim de um ano letivo em que já tivemos que nos reinventar uma vez e agora exigem de nós outra reinvenção, não há mundo que se faça e refaça tantas vezes em tão pouco tempo.
São tantas mentiras que contamos para nós mesmos que a qualquer momento a Fada Azul pode aparecer e nos devolver à forma de madeira.
Toda segunda começamos uma dieta que não passa de 2 ou 3 refeições.
Pelo menos 3x por ano dizemos que vamos começar a fazer academia, até tem quem vá de verdade, está tudo comprovado nas fotos com legenda: "o de hj tá pago".
Vários filtros, maquiagens, edições, corta aqui, ilumina ali e pronto, já podemos fingir um momento especial.
Heráclito dizia: "tudo flui enquanto resultado da tensão contínua dos opostos em luta".
Então lutamos pelo que acreditamos ser verdade, mesmo que seja mentira e por isso fluímos?
Monteiro Lobato, por intermédio da falante Emília, disse: "Verdade é uma espécie de mentira bem pregada das que ninguém desconfia. Só isso."
Agora já não sei se era verdade ou mentira o que eu ia dizer, mas quem se importa, afinal o ponto é que essa é a minha opinião e todo mundo tem que respeitar, por que aqui é assim.
Vejam só, algum tempo atrás diziam que tinha três coisas que as pessoas precisavam fazer antes de morrer: plantar uma árvore, ter filhos e escrever um livro.
Hoje em dia eu diria que isso foi resumido a fazer uma live no Instagram, falar umas coisas desconexas no twitter e escrever um textão no Facebook.
Pois agora ninguém mais está vivo ou morto: "ou vc tá on ou tá off"
Quando temos a oportunidade de fazer as coisas que nos fazem ser de verdade não temos tempo pra nos esbanjar com essas mentiras sociais.
Por que não vemos mais redes de pesca? Redes nas árvores? Que vida estamos vivendo, estamos on ou off, afinal ?
Em tempos pandêmicos e de isolamento não há grandes assuntos a serem discutidos que já não estejam desgastados ou que estarão ultrapassados na semana que vem. E então, só nos resta a vida virtual? Quem consegue hoje em dia conversar por horas sem citar algo que tenha visto na internet?
Por isso nós mentimos tanto para nós mesmos, afinal de contas quem ainda aguenta essa vida "virtuo-real"?
Uns dizem que não, outros dizem que sim, mas quem sabe, não é mesmo?
Vale a pena acreditar em tudo o que vemos por aí?
Qualquer teoria é válida?
Qualquer forma de expressão deve ser aceita?
Onde poderíamos, nós meros mortais, encontrar as respostas para todas as nossas perguntas?
Algum tempo atrás, diria que na internet, mas hoje a internet se tornou terra de ninguém, tudo cabe aqui , tudo se encontra por aqui, para o bem e para o mal.
E agora nesse cenário em que precisamos nos isolar para estar em segurança, a internet seria uma espécie de pedra fundamental.
Uma pedra suspensa no ar?
Sim, como cestas de frutas presas no teto, em que podemos colocar o que quisermos e ficar esperando estragar.
Queria ter coisas bonitas pra dizer, histórias para contar, músicas para indicar, mas parece que tudo está isso já foi desgastado em inúmeras "lives", que deviam nos manter "alive" e em segurança.
Ninguém em sã consciência vai negar os inúmeros benefícios da tecnologia, mas convenhamos que muitas boas invenções foram distorcidas para o mal e com essa não seria diferente. Haja sanidade para aguentar redes sociais, jornais, notícias a mil (muitas mal escritas, deixemos registrado), fruto das urgências que a tecnologia nos impõe. Nem o campo magnético da terra aguenta mais (pode procurar aí na internet).
Quem aí não está cansado dessa vida "online"?
Queria me desconectar, mas hoje em dia a gente precisa da internet até pra descobrir como cuidar do jardim e da horta.
Algumas coisas a gente só entende sob imersão, o mal que a internet faz e o quanto a gente virou escravo dessa tal pedra fundamental suspensa no ar.
Acho que depois dessa vou amarrar ela na perna e tentar me afogar.